domingo, 3 de novembro de 2013

Troca de olhares sobre Deficiência Visual - DV

 Figura 1: TECLADO VERSÁTIL - Matheus Levien Leal, 10 anos, está na 4a série e tem paralisia cerebral e baixa visão. Ele usa um teclado com várias lâminas, trocadas de acordo com a atividade. A de escrita, por exemplo, tem cores contrastantes e letras grandes. O equipamento é programado para ajustar o intervalo entre os toques, evitando erros causados por movimentos involuntários.

Troca de olhares sobre Deficiência Visual  - DV

Com base na leitura da Parte II, Tópico 1, CRENÇAS, MITOS E CONCEPÇÕES ACERCA DA CEGUEIRA (p. 26-29)  e as experiências que tive posso dizer que desde o primeiro ano de faculdade do curso de pedagogia todos os cursos ou oficinas voltados para cegueira ou baixa visão eu me inscrevia, isto porque pensava da seguinte forma: e se eu ter em minha sala um aluno com tal deficiência como eu devo me portar, quais as estratégias que posso usar para ajudá-lo.

Foi ali que comecei a ter um pouco de conhecimento da área e as minhas crenças começaram a ser desmitificadas.

Hoje eu já sei que uma pessoa cega é uma coisa e com baixa visão é outra coisa. Que o aluno deve sempre sentar no mesmo lugar e se for mudá-lo de lugar deve-se avisá-lo com antecedência, nunca devemos segurar no braço dele tentando guiá-lo e sim deixar que ele pegue no nosso braço sem tentar dominá-lo, tem que ser natural.

Aprendi também que sempre se deve falar, ou melhor, explicar coisas novas aos cegos, posto que se ele é cego de nascença ele não tem noção de muitas coisas que são simples para nós, por exemplo: dizer que a bola é grande e se o aluno nunca pegou e comparou uma bola pequena, média e grande para o DV não fará diferença nenhuma para ele até quando alguém lhe ensina mostrando a diferença de cada uma dela.

O jeito de trabalhar com um estudante cego ou baixa visão é diferente, para o último muitas vezes é necessário ou não usar recursos ópticos, atividade ampliadas, computadores adaptados com colméia, plano inclinado para cegos e /ou mesas adaptadas entre outras, aprendi nas leituras dessa pós que “Entre as pessoas com deficiência visual, de 70% a 80% possui alguma visão útil” isso porque:
               No contato e relação com o ambiente − para a criança com baixa visão, seja qual for a percepção                 visual, fica mais fácil identificar prontamente as dimensões e características gerais de um ambiente                
e verificar a presença ou ausência de alguém. (AMIRALIAN, 2004, p.18)

Já com DV podemos usar o braile, a reglete, a punção, bengala para cegos, programas de computadores específicos, colméia: teclado com ampliação da teclas (preto e amarelo) com braile incluído. Mas todos devem ter atividades voltadas para textura, som, alto relevo, livros falados, softwares, teclados e mouses diferenciados.

Ainda segundo Amiralian (2004, p. 18) “na aprendizagem por imitação – uma das importantes formas de aprendizagem é a imitação, e muito do que somos e sabemos nos vem pela imitação visual. A criança cega precisa substituir esse canal de aprendizagem” no caso de uma com DV é necessário usar as mãos e os ouvidos. As mãos para sentir, pegar palpar e os ouvidos para ouvir e internalizar o que muitas vezes está tocando.

Eu tinha muitas dúvidas de como a pessoa cega consegue ir e vir sem se perder, hoje entendo que existe, ou melhor, é formado um mapa mental dentro do cérebro dele, por isso que se for mudado algo de lugar deve-se avisar antes, para que ele se planeje mentalmente.
Quanto a
          Constituição e organização do espaço – uma das grandes dificuldades enfrentadas por aqueles que             não enxergam é construir a noção de espaço e sua relação com ele, e qualquer resíduo visual                       possibilita          à criança perceber com maior facilidade onde ela está, onde estão os objetos e a                 relação entre eles. (AMIRALIAN, 2004, p.18)

Eu imaginava que um cego nunca conseguiria guiar o outro cego, há alguns anos tive compreensão que isso é um pouco de mito: posto que perto da minha casa tem dois cegos e a mulher que também é cega consegue guiar o marido, ela espera ele no ponto de ônibus para levá-lo até a casa deles, é claro que aas vezes ela enxergue um pouco, mas acredito que alguns conseguem com mais facilidade do que outros de decorar mentalmente um endereço, ou melhor uma localização, ter superado essa ideia fez com que eu acreditasse mais no potencial do meu aluno futuramente cego.
                 Quando a perda total ou parcial da visão ocorre desde o nascimento ou nos primeiros anos de                        vida, a criança desenvolve um modo particular de ver as coisas ao redor, de explorar, de                             conhecer o entorno. Ela aprende a interagir com as pessoas e objetos a sua maneira, usando os                  sentidos remanescentes para perceber, organizar, compreender e conhecer. Portanto, a criança,                     desde cedo, deve ser estimulada a agir em seu ambiente, a interagir, a conhecer, a saber, e                           desenvolver-se como toda criança. (DOMINGUES, 2010, p. 26)

Enfim, para desfazer esses equívocos no cotidiano da comunidade escolar desses alunos é necessário evitar termos pejorativos, como por exemplo, "ceguinho", quatro olhos entre outro. Romper idéias preconcebidas a respeito da cegueira, é sim rever posturas e atitudes em relação aos deficientes visuais de um modo em geral, pois a falta de visão não compromete em nada o cognitivo do mesmo.


Referências

AMIRALIAN, Maria Lúcia Toledo Moraes. Sou cego ou enxergo? As questões da baixa visão. Educar. Curitiba (PR), Editora UFPR, n. 23, p. 15-28, 2004. Disponível em: http://www.rc.unesp.br/igce/ceapla/cartografiatatil/artigos/cego_enxergo.pdf. Acesso em 1/11/2013.

Domingues, Celma dos Anjos [et.al]. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. Os alunos com deficiência visual: baixa visão e cegueira - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial (SEESP); [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará, 2010, p. 26


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